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A vizinha do CEO

A vizinha do CEO

Autor: Suelen R. Noguez

Terminado

Bilionário

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Introducción

Maria do Céu acorda em um luxuoso quarto de hospital, para descobrir que ficou mais de um mês em coma, após sofrer um acidente que quase a matou. Com o trauma, havia perdido o ultimo mês de sua vida, não lembrava do acidente e nem de seu trabalho na Global Marketing. Para a sorte do seu novo e prestativo vizinho, que estava estranhamente empenhado em entrar na sua vida, e pelo visto fazer parte dela. Havia uma chance do plano de João dar certo, contanto que ela não descobrisse quem ele realmente era.
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Chapter 1

Aos 26 anos João Vicente se tornou um CEO, o pai se aposentou e foi curtir a vida com a esposa 30 anos mais jovem, e deixou para ele o comando da sua empresa de marketing. Nisso ele era ótimo, estudou a vida toda para liderar aquele lugar. Acompanhando as evoluções do ramo, a empresa sob o seu comando triplicou os lucros com novas abordagens de mercado. Gostava de viver como bad boy, ostentando tudo que o dinheiro podia comprar. E não media esforços para conseguir o que queria na vida e nos negócios. Não atribuía importância a ninguém em particular, nem família, nem mulheres. A mãe faleceu de Câncer há uns dois anos, e o pai não perdeu tempo em casar-se com a amante. Havia amado sua mãe, mas sentia que poderia ter deixado isso mais explícito.

Competência, proatividade e dinamismo, eram as qualidades que ele mais admirava em qualquer pessoa, e a falta delas, era o maior motivo de desprezo por sua parte. Emocionalmente falando um robô? Bem próximo disso, ao menos é o que as pessoas pensavam, era inclusive o que ele também pensava sobre si mesmo, até que... Notem, sempre tem um até que, aquele momento que o nosso mundo sai do eixo, que passa a girar de forma confusa ou em outra direção. Às vezes é sobre amor, às vezes é uma profunda tristeza, mas no caso do João foi a culpa. Um sentimento que ele nunca havia experimentado, não naquela dimensão pelo menos. A sensação de ser diretamente responsável por quase destruir a vida de alguém, era muito intensa, muito pessoal, muito íntima, e ele não gostava de nenhum desses sentimentos. Não é exatamente assim que essa história começa, mas é por isso que ela começa, devido à culpa, e o que um homem consegue fazer por causa dela.

Maria do Céu era órfã e sem parentes, perdeu os pais, vítimas de assalto seguido de morte e aos 12 anos, foi para um abrigo. Nunca quis ser adotada e acabou se tornando muito querida pela diretora. Terminou o colégio e aos 18saiu, a diretora arrumou um emprego em uma firma terceirizada de limpeza, em que a gestora era sua conhecida. Voltou para a casa da família, que estava abandonada e em péssimo estado. Com alguns anos no emprego já tinha feito melhorias nela, mas vivia de forma muito simples. Não tinha muitos amigos, apenas o dono do bar que ficava perto da sua casa e frequentava desde criança. Jão, um senhor muito bondoso e animado.

Era difícil fazer amigos, perdeu todos quando foi para o abrigo e os que fazia lá foram sendo adotados, não é que odiasse as pessoas, bem pelo contrário, mas em sua experiência de vida se aproximar de pessoas implicava em perdê-las em seguida. E isso, era bastante cansativo. Contar apenas consigo mesma se tornou sua filosofia de vida. Era agradável? Nem sempre. Mas seu lema era: “sem expectativas, sem decepções”, e assim os dias iam passando. Fazia quatro anos que trabalhava na Deep Clean, o serviço era fácil, mas pagavam pouco. Com todas as melhorias que precisou fazer na casa deixada pelos pais, não sobrava muito além do necessário para sobreviver. Continuar os estudos era um plano, que depois de todos esses anos estava próximo. Finalmente ia sobrar algum dinheiro para um cursinho, algum curso a distância talvez. O que exatamente? Ela ainda não sabia, mas na hora certa a ideia ia surgir.

Como a firma era terceirizada, havia uma rotatividade dos locais de trabalho. Essa semana havia iniciado no turno da noite em uma grande empresa de Marketing no centro da cidade, a Global Marketing. Como era antiga na firma e digna de confiança, ficou responsável pelo andar da presidência. A diretora foi bem clara do quanto o serviço deveria ser minucioso, pois esse era um contrato ótimo. Falou que o presidente era metódico e muito exigente, e era conhecido por explosões de humor quando não estava contente com os serviços prestados e a conservação dos ambientes era algo que ele prezava muito. Ou seja, devia ser algum neurótico chato, que pegava no pé de todo mundo. Graças a Deus no turno da noite não tinha que ver quase ninguém. A sala devia ser o próprio retrato dele, sempre muito organizada, quase não tinha o que fazer, sem nenhuma foto ou objeto pessoal. Apenas uma mobília luxuosa, um computador e papéis, uma infinidade de papéis. Tudo sempre organizado, a secretária devia ser ótima, pensou ela.

Assim transcorreu muito bem a primeira semana nessa nova empresa. Até que... E aí está ele novamente o nosso ponto de partida, o momento em que, de alguma forma, tudo começou a ficar esquisito. A menina que trabalhava durante o dia ficou doente, e para não colocar uma novata nesse turno que era mais movimentado, Maria do Céu acabou sendo remanejada. Os primeiros dias foram tranquilos, o CEO estava em uma viagem de negócios, fazia seu trabalho e ia para casa.

Nessa manhã estava especialmente satisfeita por trocar de turno, porque era quarta-feira, dia de música ao vivo no bar do Jão. Não que esse fosse um grande evento, juntava algum público, mas nada grande. Seu único vestígio de vida social. Fora isso, seu lazer era ir ao cinema e não muito mais. Às quartas e sextas, tocavam músicos de ritmos variados, e desde que iniciou no turno da noite, nunca mais conseguiu ir. Limpou tudo normalmente, e deixou por último a sala da presidência, havia sido solicitado que limpasse antes do turno da noite, pois haviam derramado algo. Tentou esperar que o chefão que havia retornado de viagem fosse embora, mas estava demorando demais, ia acabar se atrasando para ir ao Jão. Estava matando um tempo, fingindo limpar algo no corredor, quando ouviu um homem sair da sala e dizer a secretária:

—O presidente já saiu, os ânimos estavam bastante exaltados, você sabe o protocolo.

— Sim, vou buscar um café, o dia foi bem longo. —respondeu à secretária e saiu.

Acreditando ser sua deixa, Maria foi limpar a sala que faltava. Quando entrou, a sala estava como esperava vazia, com cacos de vidro espalhados, que até o dia anterior haviam sido um lindo e caro vazo. Muitos papéis bagunçados, o que definitivamente não era normal. Foi olhar o monte de papéis para ver se conseguia organizar algo, quando a porta do banheiro se abre e sai um dos homens mais altos que ela já havia visto. Era bonito também, mas meu Deus, como era alto, ela pensou. Ele a encarou por um tempo, meio sem entender, em seguida seu semblante mudou e ele ficou visivelmente irritado.

— Quem é você, e o que está fazendo aqui? Quem te deu permissão para mexer nesses papéis, eles são altamente confidenciais!

Só era possível formular o seguinte pensamento. “Oh, Ohh! Definitivamente aquela era uma situação ruim”. Olhou para as mãos, em que estavam os papéis, e só conseguiu pensar estar definitivamente demitida, desempregada e pela fúria nos olhos do homem seria rápido, bem rápido. Enfim, conseguiu responder algo.

— Eu sou da equipe de limpeza, me chamaram para limpar aqui.

—A quanto tempo trabalha aqui? Não sabe que só pode entrar para limpar...

Ah, agora estava óbvio, esse grandalhão moreno com cara de bebê era o CEO. Mas quantos anos ele tinha, afinal, era permitido ser presidente com essa cara de pouca idade? Maria suspirou, estava divagando outra vez, definitivamente esse não era um bom momento.

— Sim, senhor, mas disseram lá fora que o presidente havia saído do escritório. Devem ter se enganado.

— Não, o presidente que saiu foi o meu pai, o antigo presidente. Ele saiu há um tempo. E mais do que nunca quando ele sai o protocolo é me deixar sozinho. Agora, eu saio do banheiro e ao invés de estar totalmente sozinho ainda encontro você mexendo em papéis confidenciais? Você é realmente uma faxineira ou algum tipo de espiã?

Ele estava realmente furioso, com a voz bastante alterada. Não demorou muito para o homem loiro e a secretária entrarem e presenciarem a cena que o maluco estava fazendo.

— O que está acontecendo aqui? —perguntou o loiro. Até que me viu e entendeu tudo. Ele não conseguiu esconder a cara de pena, de quem sabia exatamente qual era o meu destino.

— Eu que gostaria de saber. Achei que os protocolos do escritório estavam bem claros, até para a equipe de limpeza. Foi por isso que dispensamos a última. E agora eu encontro essa daí na minha sala, depois de uma visita do meu pai, xeretando na papelada do escritório.

A secretária permanecia em total silêncio, certamente com medo de que algo sobrasse para ela.

— Senhor, deve ter havido um mal-entendido, ela deve ter realmente pensado que a sala estava fazia. Essa empresa tem boas referências.

—Não tenta achar uma justificativa, Andreas. Porque nenhuma será suficiente. Esse erro é inadmissível.

“Então era Andreas, o nome do lambe botas do bebezão”. Se existia algum momento de tentar se defender seria aquele.

— Sim, eu já expliquei para ele que eu escutei que o presidente havia saído, por isso entrei. Quando entrei estranhei a bagunça, por isso vim ver se podia organizar um pouco. Eu estava começando quando ele saiu do banheiro, entendeu tudo errado e começou a gritar comigo.

— Não sei como você esperava que eu reagisse, quando me deparei com a cena...

—Eu sei, mas...

—Você não me interrompe quando eu falo, e não admito que me conteste! — Sua voz era inflexível, muito séria e direta. Ele não parava de me encarar com um olhar gelado enquanto falava.

— Essa é uma empresa muito grande, e exigimos um mínimo de capacidade de quem nos presta serviços. Cada um saber suas obrigações, e desempenhá-las de forma correta, é o mínimo pelo valor que pagamos. Eu não sei se você é lerda, desligada ou só incompetente. Mas pode pegar suas coisas e sair daqui agora mesmo. Você é um nada, não faz diferença nenhuma nesse lugar, se não consegue nem desempenhar essa simples tarefa. E acho bom não esperar nenhuma carta de referência. No que depender de mim, você não trabalha nem limpando ruas.

— João, não acho que seja para tanto. —Andreas tentou intervir.

Aquilo fora quase de graça, eu havia, sim, dado uma grande mancada, mas nem de longe merecia toda aquela raiva, óbvio que ele estava descontando em mim. Só que crescer em um abrigo pode te deixar com problemas de autoestima, e faz você ter dificuldades em lidar com como as pessoas te tratam. Mesmo assim, me controlei e fiz minha voz parecer calma, mas por dentro eu fervia de raiva.

— Pode deixar moço, eu não preciso que me defendam. Eu sei que errei porque aparentemente não tomei o cuidado necessário para obedecer a essas regras exageradas, deste lugar idiota, com o dono mais babaca e imbecil do mundo, que só porque tem um assento de privada dourado, acha que pode pisar nas pessoas — fui largando os papéis que eu ainda segurava.

—Agora quem não quer trabalhar mais aqui nesse manicômio sou eu. Deus me livre de ter que aturar os ataques histéricos desse mauricinho, cada vez que o papai vier e der uma bronca nele. Isso aqui é para malucos, e fique sabendo, que se eu não conseguir trabalho nem limpando ruas, ainda é melhor pedir esmola do que ter que olhar para sua cara outra vez. Não se preocupe, fome eu não vou passar, nem que eu tenha que imprimir uma foto sua e transformar em uma capa de privada para vender nas ruas.

Saí da sala apressada, com a raiva me corroendo por dentro. Juntei minhas coisas na sala de serviço e desci os lances de escada correndo, pois não ia aguentar esperar o elevador. Cheguei à calçada em tempo recorde, e fui atravessar a rua em direção ao ponto de ônibus. Não ouvi os gritos de aviso, nem a buzina dos veículos. Quando me dei conta, o carro já estava vindo para cima de mim, e tudo ficou escuro. Até do andar da presidência, dava para ouvir o burburinho das freadas dos carros e gritos de socorro.