A noite estava fria, e o vento cortante parecia sussurrar segredos sombrios entre as árvores. A lua cheia brilhava no céu, iluminando a clareira onde a alcateia Cinzenta se reunia. Eu me encolhia no canto mais escuro, tentando me fazer invisível. Sabia que não pertencia ali. Nunca pertenci.
Desde que me entendo por gente, fui a ômega rejeitada. Enquanto os outros lobisomens corriam sob a lua, celebrando sua força e união, eu era deixada para trás. Minha fragilidade era um segredo aberto, uma mancha na honra da alcateia. Thorn, o alfa, nunca perdeu uma oportunidade para me lembrar disso.
Luna, sua voz ecoou pela clareira, grave e cheia de desprezo. Todos os olhos se voltaram para mim, e eu senti meu estômago embrulhar.
Eu me levantei devagar, minhas pernas tremendo sob o peso do medo. Thorn estava no centro da clareira, sua figura imponente projetando uma sombra que parecia engolir tudo ao redor. Seus olhos dourados brilhavam com uma frieza que me fez querer correr, mas eu sabia que não podia. Correr seria admitir minha fraqueza, e eu já tinha feito isso demais.
"Você é uma vergonha para esta alcateia," ele disse, sua voz cortando como uma faca. "Uma ômega fraca, inútil. Não merece nosso sangue."
As palavras doíam mais do que qualquer golpe. Eu me agarrei ao meu próprio braço, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. "Por favor," sussurrei, minha voz trêmula. "Eu posso mudar. Eu posso ser útil."
Thorn riu, um som áspero e cruel que ecoou pela clareira. "Útil? Você não consegue nem correr com o grupo. Você é um fardo, Luna. E hoje, eu me livro de você."
Antes que eu pudesse reagir, dois lobisomens se aproximaram, agarrando-me pelos braços. Eu lutei, mas era inútil. Eles me arrastaram para fora do território da alcateia, me jogando na terra fria.
"Se voltar, você morre," Thorn disse, sua voz gelada.
E então eles foram embora, deixando-me sozinha na escuridão. A floresta parecia engolir-me, seus sons assustadores ecoando em meus ouvidos. Eu não sabia para onde ir, o que fazer. Tudo o que sabia era que estava sozinha.
A lua continuava brilhando no céu, indiferente ao meu sofrimento. Eu olhei para ela, sentindo uma mistura de raiva e desespero. Por que eu? O que eu fiz para merecer isso?
Minhas lágrimas caíram no chão, misturando-se à terra úmida. Eu me encolhi, tentando me aquecer, mas o frio parecia vir de dentro. Eu estava exausta, faminta e com medo. Mas, acima de tudo, estava cansada. Cansada de lutar, de tentar provar meu valor. Cansada de ser a ômega rejeitada.
Eu me deitei no chão, encolhendo-me em uma bola. Talvez fosse melhor assim. Talvez fosse melhor deixar a floresta me levar.
Mas então, algo dentro de mim se rebelou. Uma faísca de raiva, de determinação. Eu não queria morrer. Eu não queria desistir.
Eu levantei a cabeça, olhando para a floresta escura. Se Thorn não me queria, eu encontraria meu próprio caminho. Eu sobreviveria.
E, com um último olhar para a lua, eu me levantei e comecei a caminhar.



