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A Chance

A Chance

Auteur: Pauliny Nunes

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Realismo Urbano

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Introduction

"Eu quero o divórcio" essas eram as palavras ditas por Hugo que ecoaram pelo quarto e pela mente de Beatriz. Hugo e Beatriz eram casados há quase dez anos e são considerados o casal perfeito por todas as pessoas que os conhecem. Porém, até mesmo o casal perfeito tinha seus problemas. As brigas constantes, decisões conflitantes e diferenças irreconciliáveis permeavam a vida de Hugo e Beatriz. Até que um dia Hugo decidiu que era hora de pôr um ponto final, naquele que um dia foi um relacionamento feliz.  Porém, durante o processo do divórcio, surge alguém o amor de infância de Beatriz , Flávio Wilkinson que não está nenhum pouco disposto a abrir mão dela dessa vez, a fazendo enxergar além dela mesma. Até o destino mudar as cartas do jogo. Agora, Beatriz precisa tomar uma decisão que mudará sua vida e lhe dará a Chance de ter o que realmente deseja.
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Chapter 1

Vidros e retratos quebrados, roupas pelo chão e um silêncio quase absoluto no quarto. Pode-se dizer que um furacão passou por ali. O cenário veio se repetindo com maior frequência durante os últimos meses e já não espantava mais os vizinhos e nem os moradores. Aliás, os moradores estão presentes na cena caótica, cansados e pensativos.   Beatriz está sentada na cama de cabeça baixa e Hugo está próximo à porta do banheiro, encostado, com seus olhos fechados.     

Outrora aquele cenário significava mais uma incrível e tórrida noite de amor, mas agora representa somente o ódio de ambos.   

— Eu quero o divórcio… Eu preciso do divórcio… Eu preciso viver novamente – revela Hugo,  quebrando o silêncio. Ele decide se aproximar daquela mulher com quem a pouco tivera uma briga terrível. Ajoelha-se na frente dela e olha fixamente em seu rosto.   

O rosto, sim, o rosto da mulher por quem passou anos,  apaixonado. A quem jurou amor eterno. Ainda é o mesmo rosto daquela jovem que conheceu no réveillon. Uma história que ele adorava contar para aqueles que perguntavam como eles se conheceram, mas agora já nem sequer faz questão de recordar.     

Hoje é um rosto pálido com algumas rugas, mas é ainda um belo rosto.  O nariz ainda é fino, ornando com o formato do rosto. Ainda têm as três pintas próximas ao olho esquerdo, bem como as sardas. Os olhos, aqueles olhos que ele jura terem sido desenhados, arredondados e ao final são levemente puxados. Os olhos castanhos mais expressivos que conhecera, já não lhe dizem nada.    

 — Eu conheci alguém – confessa Hugo que segura às mãos de Beatriz— Não nos envolvemos ainda. Na verdade só tomamos um café, mas eu me senti vivo de novo. É como se eu pudesse… Se eu pudesse amar outra vez!   

Aquelas palavras vieram como um soco em Beatriz. Pela primeira vez ela olha no rosto de Hugo. Busca fervorosamente que ele estivesse arrependido, mas só encontra naqueles olhos negros como a noite, a verdade das palavras ditas.     

— Eu juro que tentei Bia – continua Hugo colocando a cabeça em seu colo —Juro que eu tentei resgatar o nosso amor, só que ambos sabemos que ele acabou. Bem como nossos sonhos...  Pelo amor de Deus, diga algo! 

— Dizer o quê? Você já decidiu tudo por nós – ironiza Bia, o afastando de seu colo — Diga-me, qual a opção que eu tenho? – segura o rosto de seu marido—Eu ainda te amo! Você é o amor da minha vida! Você é a razão da minha existência! E MESMO SABENDO DE TUDO ISSO, VOCÊ NÃO QUER MAIS! NÃO ME QUER MAIS!   

— Nós não nos suportamos mais Beatriz! Olha nossas brigas! Olhe para nós! Acabamos de brigar e já começamos de novo – retruca Hugo se levantando. Não pode mais levar aquilo adiante então, de costas, determina— Eu sairei de casa hoje mesmo e amanhã entrarei com a papelada. Peço que assine o divórcio em memória do que vivemos.    

— Vai para a casa dela? – pergunta Beatriz sarcasticamente. Ela vai em direção ao Hugo — Vai brindar a morte do nosso “amor eterno” com ela? Contará para ela que o mesmo amor que jurou para mim, agora fará com ela?   

— Ela nem sabe de nada.  Nem tenho certeza se é ela quem eu vou amar… –  responde Hugo que se vira para Beatriz — Irei para casa do Jorge e peço que você não me siga.    

— Lamento informá-lo, mas dessa vez não irei – retruca Beatriz, amargurada. — Tenho meu orgulho e já que está decidido, vá embora. Leve suas coisas e vá. Mas leve tudo! TUDO!    

— Não se preocupe, pois farei isso. Só peço que assine os papéis do divórcio, por favor – pede Hugo, sério.

— Acha mesmo que vai levar o dinheiro da minha família com você, seu golpista? – acusa Beatriz que agora está com um abajur nas mãos — Isso nunca vai acontecer. Você sairá dessa casa do jeito que entrou: sem um tostão no bolso!

— Eu conquistei tudo isso aqui! – alega Hugo, exaltado. Ele aponta o dedo para Beatriz e continua — Eu cresci na empresa! Tenho tanto direito quanto você. Aliás, você só gastou todo o dinheiro todos esses anos.

— Com caridade! – retruca Beatriz, jogando o abajur em Hugo. Ele consegue desviar, deixando o abajur se despedaçar na parede, o que aumenta mais a fúria de Beatriz — Seu babaca, insensível.

— Chega! Estou cansado disso! – grita Hugo, segurando Beatriz — Acabou!

— Ainda bem que não tivemos filhos, assim eles não veriam o pai vigarista que você é – dispara Beatriz fazendo força para sair das mãos de Hugo. Ela sabe que ter filhos é o que ele mais deseja e por isso as palavras irão machucá-lo. — Ainda bem que não cometi esse erro.

Ele a solta, como previra Beatriz, a jogando na cama. Os olhos negros de Hugo demonstram toda dor que sente ao ouvir aquelas palavras. Como ela pôde? Pensa, transtornado. Sem dizer uma palavra foi em direção à porta deixando Beatriz atônita na cama. Hugo jamais poderia imaginar que o relacionamento deles acabaria daquela forma.

****

Hugo vai para cozinha atrás da secretária do lar, Helena, uma senhora de sessenta anos que sempre trabalhou para a família de Beatriz. Ela está sentada conversando com o motorista, Antônio, um rapaz recém-contratado pelo casal.  

— Helena, por favor, vá até o meu quarto e faça minhas malas. E amanhã preciso que todas as minhas coisas estejam empacotadas. O endereço onde irá enviá-las é o do Jorge – informa Hugo olhando para os ímãs de geladeira. Ele procura um número de táxi. Geralmente era ali que Helena os deixava para ela mesma usar.

— Sim, senhor – responde Helena caminhando em direção ao quarto.

— Para onde o senhor quer que eu o leve? – pergunta Antônio, já em pé ao lado de Hugo.

— Para lugar nenhum, irei de táxi dessa vez – responde o patrão enquanto pega um número de táxi da geladeira.

Não sabe na verdade se vai para a casa de seu amigo ou para um hotel, mas naquele momento, qualquer lugar é melhor que a sua casa.

****

Quando Helena entra no quarto, encontra Beatriz chorando convulsivamente na cama.  

— Dona Beatriz não fique assim… – pede a empregada, sentando na cama — Logo  Seu Hugo vai voltar para casa novamente... Como sempre.

—Não, Leninha. – nega Beatriz entre soluços — Dessa vez não. Dessa vez é o fim. O fim de tudo! Ele já tem outra! Ele me trocou! 

— Ô Dona Beatriz,  isso passa. Tudo nessa vida passa. E vocês formam um casal tão unido. É só uma fase – levanta da cama — Vou arrumar as coisas do patrão.   

— Ele quer as coisas dele? – questiona Beatriz, brava, levantando da cama. Vai ao closet e começa a jogar todas as roupas e sapatos de seu marido — Então leve tudo! E o que não for, queime! EU não quero nada do Hugo nesta casa! Se ele não quer mais, eu muito menos! 

Helena olha para sua patroa, atônita, nunca vira Beatriz tão transtornada. Entra no closet e abraça Beatriz. Ela a conhece desde pequena e sempre tratou à jovem como se fosse à filha que nunca tivera.

— Acalme-se, Dona Beatriz. Isso é só uma fase – acaricia a cabeça de Beatriz — Tudo vai dar certo.

— Será, Leninha? Será mesmo? – questiona Beatriz entre soluços.

— O que for para ser, senhora, será – garante Helena.

Depois de muita resistência, finalmente Helena consegue colocar Beatriz na cama e começa a arrumar as coisas de Hugo, sob o olhar perdido da bela senhora Gouvêa Abraão.

****

 Quando Hugo sobe novamente, suas malas estão feitas e colocadas no meio da sala. Ele pensa em ir até o quarto dar um adeus a Beatriz, mas resolve que não, pois ela poderia implorar para que ele fique coisa que não está disposto a fazer, pelo menos não dessa vez.  Pega as suas coisas e sai, pela última vez, duplex.

Ao ouvir a porta da sala se fechando, Beatriz pensa em levantar, mas seu corpo não lhe obedece. Então ela deita em sua cama e volta a chorar. Deseja que tudo aquilo fosse somente mais um dos seus pesadelos.