Bia
As notas dos instrumentos musicais flutuava até o quarto, podia escutar o converseiro da família e dos amigos no quintal, apostava haver uma roda com os rapazes, cada um com seu instrumento tocando música dos anos noventa. Meu pai estaria na churrasqueira, minha mãe entrando e saindo da cozinha com travessas cheias de comida, Briana ao lado dela, Ian e Bryan tentando roubar os doces e o senhor Sullivan brigando com os “meninos” porque as iguarias feitas por mim deveria ser dos mais velhos. Meus vizinhos, de longa data mais parecia uma extensão da nossa família. Crescemos juntos, eu, Carol, Bryan e Ian, o quarteto fantástico.
Parei na frente do espelho admirando meu corpo por completo, do grupo dos super-heróis, com toda certeza eu seria o Coisa. Passei a mão pelo tecido de cetim florido na cor vermelha e preta, um corpete corset vintage com mangas bufantes em rendas, que deixa o meu colo bem em evidência, a curva dos seios parecendo... pãezinhos de hambúrguer.
— Eu só penso em comida. — Balancei a cabeça em negativa. Não teria coragem de sair usando aquilo, não sabia onde Ana, uma amigada conhecida da internet, estava com a cabeça ao me mandar aquela peça, tudo bem que me sentia sexy, uma outra mulher, a peça foi feita para ser usada como blusa e não como uns apetrechos de tortura do século passado que as pessoas colocava o nome de roupa de baixo. Passei a mão por cima dos meus seios, descendo pelo tórax, passando pela cintura. Me abracei e fechei os olhos imaginando que as minhas mãos eram outras, de um certo ruivo e vizinho.
Fazia tempo que não tinha nenhum sonho pecaminoso com o ruivo do quintal ao lado, imagem que com a idade a minha queda por ele acabaria, mas não, eu ainda fazia papel de boba apaixonada perto dele. Passei a tarde do ontem, o vendo arrumar as mesas no quintal, sempre foi bom com as mãos, mãos essa que me tocaram delicadamente esporando a minha pele, como se fosse algo precioso, podia sentir os calos nas palmas das mãos devido ao trabalho pesado no corpo de bombeiros. Ele olharia para mim com os bonitos olhos verdes, me diria como sou linda e que sempre me amou, teríamos três filhos e um cachorro, moraríamos aqui mesmo no bairro perto das nossas famílias...
— Cruzes, Bia. — Dei um salto no lugar e lentamente me encarando a minha perfeita irmã, em um vestido do tipo tubinho colado em suas curvas generosas. Por mais que fizesse horas de academia, dietas, reeducação alimentar, eu nunca consegui ficar no peso ideal para o meu tamanho. — O que estar vestindo? — O tom humorado não passou despercebido por mim. — Parece um colchão amarrado. — Ela riu.
— É da nova coleção da Ana...
— Aquela amiga estranha, sua? Com um mau gosto para roupas? — Ela parou ao meu lado, ajeitando os cabelos alisados atrás da orelha. Os brincos dela reluzia combinando com o colar, não sabia de onde saia tanto dinheiro para comprar roupas caras, sapatos etc. — Vai por mim, só quero o seu bem, irmãzinha, todo mundo vai rir disso, coloca aquele camisão que te dei, querida.
Olhei mais uma vez a Bia no espelho, a mulher que achei estar sexy, combinando com a saia estilo secretária com uma fenda lateral, deixando uma porção da minha coisa a vista. Sim, meio exagerado para a ocasião do churrasco, na verdade, só ponderei provar, colocaria um vestido fresquinho.
— Licença. — A voz profunda de locutor de rádio me vez ter o segundo sobressalto da tarde. — A mãe de vocês pediu para chama-las, o almoço estar pronto.
— Bryan, meu gato. — Camila esqueceu de mim e saltitou até ele e o abraço. — Como tem sido difícil nos vê?
— Trabalhando muito no quartel. — Nossos olhares cruzaram através do espelho, me sentir exposta, avaliado por ele, provavelmente pensava o mesmo que Camila, que eu parecia um colchão amarrado.
— Eu... vou me trocar. — Peguei o vestido em cima da cama e voei para o meu banheiro, não precisava ouvir da boca dele a minha inadequação. Tirei a peça delicada e a saia colocando o vestido por cima do meu corpo roliço.
De colchão amarrado, a um botijão de gás com saia.