NovelCat

Vamos ler

Abrir APP
A Donzela E O Vampiro

A Donzela E O Vampiro

Autor: Hel J L Costa

Completo

Lobisomem/Vampiro

A Donzela E O Vampiro PDF Free Download

Introdução

As mudanças culturais, econômicas e tecnológicas que surgiram com os primeiros anos do reinado da jovem Rainha Vitória, traziam esperança de renovação, porém mesmo com todo pensamento moderno que circulava em toda Europa, as famílias tradicionalistas mantinham os rígidos costumes, o moralismo social e sexual, o fundamentalismo religioso e o capitalismo agressivo e explorador. O crescimento tecnológico do Reino Unido chamou a atenção de todo o mundo, o que culminou em um aumento massivo da população e no aumento das diferenças sociais, atraindo também seres das trevas, predadores cruéis cujas principais presas eram os humanos. Nos bastidores da vida corrida das principais metrópoles britânicas, seres amaldiçoados se escondiam nas trevas, esperando por boêmios descuidados e pobres indefesos para saciarem sua sede por sangue. Em meio ao caos da corrida por poder, a bela Elizabeth Welch vivia sob a pressão de seu pai, que procurava envolvê-la em um casamento vantajoso para si e para seus planos de ascensão à nobreza, mas a jovem por sua vez, à frente da sua época como era, sonhava com a liberdade de fazer as suas próprias escolhas e todas as noites pedia por qualquer tipo de socorro em suas orações. O que ela não imaginava era que o seu socorro poderia vir das trevas e que sua busca por liberdade poderia colocar sua vida em grande perigo. Seu destino fatalmente viria a se cruzar com o do misterioso Marcus Ardelean, um vampiro que por séculos viveu nas trevas de sua natureza, mas nos últimos anos tinha decidido viver entre os humanos, e usando seus poderes mentais para isso, se infiltrou na nobreza britânica e passou a viver no pomposo e afastado Castelo de Highcliffe, onde se alimentava do sangue de animais que criava com esse intuito, e com doses regulares de sangue humano cedido por uma amiga. O outrora temido vampiro, agora vivia em paz na modesta cidade de Christchurch, mas em um de seus vôos noturnos pela vila de Burton, avistou uma jovem que mudaria completamente a sua existência, a linda Elizabeth Welch, por quem se apaixonou imediatamente e desde então passou a observá-la das sombras, sonhando com um amor quase impossível, não só pela sua condição de ser das trevas, mas também por uma maldição que o persegue desde que se tornou vampiro, e que o transforma em um monstro desfigurado e grotesco durante o dia, mesmo abrigado dos fatais raios solares. Uma história marcada por tragédia e poesia, amor e obsessão, desejo e sacrifício, onde os sentimentos se confundem e se conjugam com intensidade.
Mostrar tudo▼

Chapter 1

Elizabeth

Mansão Welch - Vila de Burton, Christchurch, Reino Unido

Outono de 1839

"É triste constatar que um órgão pendente,

Seja o grande sinal determinante,

Que decide quem faz as regras que devemos seguir,

Que define quem deve comandar.

Queria eu, sendo mulher, me libertar

E viver a vida sem me preocupar

Com essa sociedade machista que quer nos oprimir

E com todas essas vozes que querem nos calar.

Esperam que eu ande nos trilhos,

Que eu me cale, case e tenha filhos,

Então mantenho a chama da revolta em segredo.

Para usá-la em momento oportuno.

Por isso escrevo esses poemas e os guardo,

Enquanto presa pelos costumes eu aguardo,

O momento em que poderei me expressar sem medo,

Me livrando desse existir soturno.

Só não quero que esse momento se prolongue demais

E que não seja só na morte que eu venha a ter paz,

Pois, quão triste será minha vida

Se passá-la integralmente oprimida?

Assim antes de dormir, de madrugada,

Eu lanço orações, mesmo que para o nada,

Implorando por qualquer tipo de colírio,

Que finde as lágrimas que brotam desse martírio."

Elizabeth Welch

Fechando o seu caderno, Elizabeth o envolveu em um pedaço de couro e voltou a escondê-lo em um compartimento que descobrira em seu quarto, na luxuosa mansão que seu pai havia herdado de um tio que faleceu sem herdeiros.

Seus poemas eram seu refúgio desde quando a sua mãe morreu, quando ela ainda era muito jovem. Os dez anos que viveram juntas, foram suficientes para perceber o quanto ela era triste e que vivia sem muitas expectativas, tanto que quando a doença veio, não houve da parte de Lorrayne Welch qualquer vontade de combatê-la.

Mesmo tendo apenas dez anos, ela começou a ser treinada para ser uma dama e uma esposa, aprendendo como se portar em jantares da alta sociedade, e que tipo de conversas poderia ter com as outras esposas, isso tudo paralelo aos seus estudos, o que não permitia que tivesse tempo para a única coisa que deveria realmente fazer — ser criança.

Nos anos que se seguiram à chegada das primeiras regras, a pressão sobre ela aumentou, sendo que, como filha única, era a responsável por dar sequência ao sobrenome da família, e seu pai, o oportunista Benjamin Welch, via em cada herdeiro de aristocrata um candidato a marido para ela.

Esquivando-se como pôde, Elizabeth chegou aos dezoito anos sem se casar, tendo em sua jovem madrasta Violet, sua maior aliada. Quando Violet Stillwell foi forçada a se casar com o senhor Welch e viu que seria madrasta de uma jovem, que tinha quase a sua idade, se prontificou a fazer o possível para que ela não tivesse o mesmo destino e, desde então, vinha usando todas as ferramentas imagináveis para convencer seu marido a esperar "o melhor momento" e "o melhor marido" para Elizabeth.

Porém estava cada vez mais difícil suportar as pressões para que escolhesse um marido, já que Elizabeth era a jovem mais bela do condado de Dorset e talvez a mais bela de todo Reino Unido. Aristocratas velhos e seus filhos, condes e duques surgiam para cortejá-la e o que impedia seu pai de tomar a decisão era a possibilidade de conseguir uma oferta melhor no dia seguinte.

Em segredo nas madrugadas, ela registrava em seu diário seus poemas, suas lamentações e suas ideias, com o intuito de não explodir ao guardá-las só para si e quem sabe algum dia poderia ser livre para se expressar abertamente.

Um calafrio percorreu o seu corpo e só então ela percebeu que a janela de seu quarto estava aberta. A noite a convidava a sair e a escuridão tinha algo que a excitava além do normal. Fazendo uma nota mental, ela se advertiu a se confessar ao padre Wilson, na missa dominical, e fechando a janela, se preparou para tomar um banho relaxante antes de dormir.

Mesmo seu quarto estando no segundo andar da grande mansão, sem nenhuma construção ou árvore próxima de sua janela, ela sentiu a sensação de estar sendo observada, porém, por algum motivo preferiu não fechar as cortinas e despiu-se lentamente, como se fizesse uma exibição ao seu observador sombrio.

— Se me desejas tanto assim, por que não me libertas deste cárcere? — ela disse baixinho, olhando para as trevas que não a deixavam ver nada além do vidro — O inferno não seria pior que um casamento forçado.

Caminhando até a banheira ela deixou a água morna, previamente preparada pela sua aia, cobrir todo seu corpo e com uma esponja macia massageou o corpo lentamente. Em sua mente ela imaginou que as mãos que percorriam seu corpo fossem de seu observador imaginário, tocando suavemente cada ponto sensível e íntimo. E sem se envergonhar se entregou ao prazer intenso.

Após o banho e após mais uma nota mental sobre se confessar na missa dominical, ela se preparou para dormir. Pelo menos em suas fantasias e em sua imaginação, ela era livre e podia gozar de momentos únicos de prazer.

Com o corpo e a mente relaxados, ela adormeceu com a esperança de acordar em um mundo diferente, onde toda repressão tivesse sido extinta.