Amanda estava atrasada para uma reunião importante. O trânsito naquela manhã havia sido caótico, e o calor do verão tornava tudo ainda mais insuportável. Ao virar a esquina, sentiu o salto do sapato ceder de repente. Com um movimento brusco, seu pé virou, e ela tropeçou, tentando se equilibrar.
— Ah, não! — sussurrou, frustrada. Olhou para o sapato quebrado, o salto pendurado precariamente. Tentou andar, mas mal conseguia dar dois passos sem parecer uma cena de comédia.
E foi nesse exato momento que uma voz masculina e tranquila surgiu atrás dela.
— Precisa de ajuda?
Amanda olhou para trás e viu um homem alto, com cabelo desgrenhado pelo vento e um sorriso simpático. Ele parecia estar pronto para salvar o dia, embora estivesse tão casual quanto alguém indo para uma tarde de café.
— Acho que sim — respondeu Amanda, um pouco envergonhada da situação. — Meu sapato decidiu me abandonar no pior momento.
Ele riu e, com um gesto rápido, se abaixou para examinar o estrago.
— Isso vai ser difícil de consertar agora — disse ele, levantando o olhar para ela. — Mas posso te emprestar um dos meus.
Antes que Amanda pudesse responder, ele já estava tirando seus tênis e entregando um a ela.
— O quê? Você não pode andar descalço — ela protestou, chocada com a gentileza inesperada.
— Claro que posso. Não seria a primeira vez — ele respondeu, erguendo uma sobrancelha. — Além disso, parece que você tem um compromisso mais urgente que eu.
Amanda hesitou, mas acabou aceitando. Enquanto ela calçava o tênis, ele ficou com apenas um pé protegido, parecendo completamente à vontade.
— Você realmente não se importa, não é? — ela perguntou, já mais à vontade.
— Não mesmo. Eu sou Ricardo, a propósito — disse ele, estendendo a mão. — E você?
— Amanda — respondeu, apertando a mão dele. O toque foi breve, mas algo nela sentiu um calor familiar.
Os dois caminharam juntos por algumas quadras. A conversa fluiu como se fossem velhos amigos, e não dois estranhos unidos por um sapato quebrado. Eles riram da situação, compartilharam histórias e, antes que ela percebesse, chegaram ao destino de Amanda.
— Obrigada de verdade, Ricardo. Não sei como teria conseguido sem sua ajuda — disse ela, devolvendo o tênis.
— Eu soube que era o destino me mandando — brincou ele, com um sorriso. — Quem sabe a gente não se cruza por aí de novo.
— Quem sabe — Amanda respondeu, com uma leve esperança de que isso acontecesse.
Mas as semanas passaram, e a vida voltou à sua rotina. Ela pensava nele de vez em quando, se perguntando se realmente o encontraria de novo. O acaso, no entanto, parecia ter seus próprios planos.
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Cerca de um mês depois, enquanto estava em um restaurante com amigos, Amanda ouviu uma risada familiar. Quando olhou em direção ao bar, lá estava ele, Ricardo, rindo com alguns colegas. Ele a viu quase ao mesmo tempo e sorriu.
Ele se aproximou devagar, como se o tempo tivesse parado por um segundo, apenas para os dois.
— Acho que o destino está tentando de novo — ele disse, com aquele mesmo sorriso fácil.
— Parece que sim — Amanda respondeu, sem conseguir disfarçar a surpresa.
Eles se sentaram, conversando como da primeira vez, mas com a sensação de que agora havia algo mais. Ricardo era envolvente, não apenas por sua gentileza, mas pela maneira como fazia tudo parecer simples, mesmo em uma cidade caótica.
— A vida tem dessas, não é? — ele disse em um ponto da conversa, refletindo. — A gente segue com planos, compromissos, e então, de repente, algo — ou alguém — aparece e muda tudo.
Amanda sorriu, concordando.
— Você acredita nisso? Que o acaso pode nos levar a lugares que a gente não espera?
— Eu não costumava acreditar, mas agora... quem sabe?
Os encontros casuais entre Amanda e Ricardo continuaram. No mercado, na rua, em cafés que ambos frequentavam. Cada encontro trazia mais risadas e conversas, e, com o tempo, uma cumplicidade silenciosa começou a se formar entre eles. No entanto, por mais que se aproximassem, nenhum dos dois tomava a iniciativa de transformar aquilo em algo mais.
Foi só no aniversário de uma amiga em comum que o clima entre eles mudou.
Enquanto dançavam no terraço de um bar, com a cidade iluminada ao fundo, Amanda percebeu que algo diferente pairava no ar. Ricardo estava mais próximo do que nunca, os olhos fixos nos dela.
— Eu não acredito muito em coincidências — ele disse de repente, parando de dançar. — Mas algo me diz que a gente tinha que se conhecer.
Amanda o olhou, sentindo o coração acelerar.
— Eu também penso nisso. Desde aquele dia, eu não parei de me perguntar por que você me ajudou. Não era só por gentileza, era?
Ricardo sorriu, mas seu olhar era sério.
— Não, não era. E acho que eu deveria ter dito isso antes.
A cidade ao redor parecia sumir, deixando apenas os dois ali, no meio de tudo. Finalmente, Ricardo a puxou para mais perto, seus rostos a centímetros de distância.
— O que você está esperando? — Amanda sussurrou, quase sem fôlego.
E foi então que ele a beijou. Não foi um beijo cheio de pressa ou desespero. Foi suave, mas cheio de certeza, como se ambos soubessem, naquele momento, que haviam encontrado algo raro. Algo que o acaso, em sua maneira misteriosa, havia preparado para eles.
No entanto, a vida, com seus altos e baixos, nem sempre segue o ritmo do amor. Ricardo recebeu uma oferta de emprego em outra cidade. Eles tentaram manter contato, mas os desencontros foram se acumulando. Viagens adiadas, mensagens perdidas no fluxo do tempo.
Porém, apesar da distância, algo permaneceu. Amanda sabia que o acaso os uniu uma vez e, se era realmente destino, eles se encontrariam de novo. Talvez não no próximo café ou esquina, mas em um momento inesperado, como da primeira vez.
E ela estava disposta a esperar.