Meu nome é Nellie Renaud e tenho 16 anos. Pertenceço a uma alcateia de lobisomens conhecida por suas habilidades na rastreagem e na eliminação de inimigos, embora a alcateia estivesse longe de ser a maior lá fora.
Era a 'alcateia de meia-noite', era o meu inferno pessoal.
Não é como se eu parecesse estranha. Na verdade, minha pele, como a de quase todos os lobisomens, era naturalmente bem bronzeada, os genes passados para mim pelos meus pais sendo a razão. A maioria dos lobisomens é muito atlética, mas eu era magra demais de forma doentia. Anos de fome e racionamento de comida fazem isso com uma pessoa.
Você pode não acreditar, mas eu sou a filha do Alpha da alcateia. Eu era para ser respeitada na Alcateia do Lobo, mas tudo que eu recebia era ridicularização e abuso, e eu já estava acostumada com isso.
Era odiada na alcateia, a razão desconhecida desde que, pelo que me lembro, nunca soube o que era ser amada. Sendo honesta, eu não acharia que isso existisse se não fosse por ter assistido casais acasalando ao longo dos anos, era doloroso e incrível de observar.
Não achava que um dia encontraria um companheiro, o que tornava tudo mais doloroso.
De qualquer maneira, estou me desviando do assunto, mas para dizer de forma crua e direta, minha família me odiava. Novamente, eu não sabia o porquê, já que tenho certeza de que não fiz nada para ofendê-los dessa maneira, mas não consigo me lembrar. Eu era tratada pior do que uma escrava, o motivo sendo que era a minha alcateia, minha família, meus pais que me tratavam de tal maneira e não alguma pessoa aleatória da qual eu recebia ordens.
Nada mudou para mim quando meu irmão se tornou o próximo Alpha. Ele era um Alpha incompetente e de muitas maneiras eu era mais capaz do que ele.
Eu podia ver que ele estava levando a alcateia à ruína e isso parecia imperceptível para todos os outros. Não seria muito tempo até que eles tivessem que se aliar a outra alcateia, passar o controle para outro Alpha por não terem outra escolha. Isso não me incomodava; eu não tinha muito tempo de qualquer maneira.
Não era que eu tivesse alguma doença, mas minha saúde havia se deteriorado devido à fome crônica e à fadiga.
Nem sei se algum dos meus companheiros vai notar se eu adormecer e não acordar um dia.
Foi numa segunda-feira de manhã quando acordei da maneira usual, a sensação tão familiar de água fria como gelo caindo sobre mim de forma dura e dolorosa. O sentir do líquido gelado batendo na fina coberta que era minha cama, encharcando instantaneamente o material fino e atingindo meu corpo numa correnteza repentina enquanto a sensação da minha pele queimando com o choque da temperatura me fez arfar. Eu gritei nas primeiras vezes que fizeram isso, de choque e dor, mas agora apenas um arfar saía dos meus lábios porque eu já esperava por isso.
"Levante-se!"
Eu nem me incomodava em responder, eles fingiam não ouvir uma palavra que saía dos meus lábios, então por que eu deveria me dar ao trabalho? Eu não havia falado nos últimos anos, além de uma palavra pequena aqui e ali, eu não era muda, só não tinha ninguém para ouvir o que eu queria dizer.
Suspirando, comecei a trabalhar, as minhas tarefas eram basicamente as de todos juntas, mais uma das chamadas ideias incríveis do meu irmão. Não fazia ideia de como a alcateia iria se virar quando eu partisse; afinal, eles não faziam nada por si mesmos. Eu cozinhava para eles apenas para não receber nada em troca. Eu limpava depois deles mesmo que não fosse a minha bagunça. Eu lavava as roupas nice deles, me sentindo inútil e barata ao compará-las com as minhas.
Então, você vê, minha vida estava longe de ser perfeita, a única coisa da qual eu me sentia aliviada era que, embora eu fosse humilhada, espancada e abusada, eles nunca a levaram ao ponto de me violarmos sexualmente. Eram pessoas horríveis, mas não monstros que se rebaixariam ao ponto de estuprar uma menina... Eu esperava que não de qualquer maneira.
Levei o dia todo para finalizar a lista extremamente longa que havia sido deixada para mim, como de costume, ao final, minha visão estava embaçada e eu estava a minutos de desmaiar por exaustão. Estava tremendo como uma folha, meu corpo rígido e dolorido a cada movimento enquanto me apoiava na parede esperando que eles chegassem da escola, o fato de não me ser permitido ir significava que eu era boa com estratégias, com táticas e com finanças, mas não era a pessoa mais inteligente do mundo. Nunca tinha ido à escola, me lembro quando minha mãe, a vadia, me disse quando perguntei quando era pequena.
'A escola é para pessoas que realmente têm uma chance na vida, eu não vou deixar você desperdiçar a sua vida quando você poderia estar obedecendo ao seu irmão e fazendo as tarefas, já que será a única coisa que você será boa.
Não demorou muito para que todos chegassem de volta à casa da alcateia depois da escola, minha cabeça estava baixa enquanto eu tentava parecer invisível. Eram momentos como esses que eu me sentia pior, ouvindo eles rirem e vendo eles sorrirem uns com os outros. Eu não me lembro da última vez que sorri, inferno, eu nem me lembro se já sorri na minha vida. O pensamento me fez franzir a testa, mas a ação que rapidamente me arrependi quando atraiu a atenção indesejada que tentei evitar.
"Do que você está franzindo a testa, aberração?" meu irmão zombou.
