Dor.
Seu corpo inteiro doía tanto como se seus ossos estivessem quebrando por dentro.
Elaine abriu os olhos e, através de sua visão embaçada, o teto branco pairava acima. Sua cabeça pulsava enquanto ela tentava lembrar onde estava.
Mas era tão difícil recordar de qualquer coisa quando a dor em sua cabeça continuava a aumentar.
O colchão macio sob ela se mexia, assim como o lençol que a cobria.
O que ela estava fazendo em uma cama?
Seu coração parou de bater por um segundo e tudo começou a voltar.
A última vez, antes de seus olhos se fecharem, Elaine conseguia se lembrar de estar se afogando. Suas mãos e pernas estavam amarradas com cordas duras e ela estava vendada. Ela não conseguia nem se debater enquanto se afogava impotente até a morte.
Mas agora...
Esta dor em seu corpo não era como a de alguém que havia se afogado. Na verdade, esta dor parecia familiar, como se ela tivesse experimentado algo similar antes.
O lençol se mexeu novamente e Elaine agora estava consciente de seu entorno. Seus olhos vagaram para a esquerda e ela segurou sua respiração para se impedir de gritar.
Dormindo ao seu lado estava nada menos do que seu marido, Edwin.
Como isso era possível? Edwin havia morrido faz tempo. Ela viu seu carro cair do penhasco da montanha com seus próprios olhos.
Elaine esfregou os olhos para se assegurar que não estava imaginando coisas. Ela tocou o homem debaixo do lençol... Ele era real, e também estava nu...
E ela também estava.
O coração dela saltou de novo, desta vez, Elaine pulou e soltou um grito.
Agora que ela conseguia se lembrar deste cenário, sua confusão apenas aumentou.
Se ela não estava enganada, essa era exatamente a mesma condição em que ela acordou na manhã depois de ter drogado Edwin. E isso aconteceu quase um ano atrás, logo após eles se casarem.
Como se perturbado pelo grito dela, Edwin se mexeu na cama, pestanejando.
Ele abriu os olhos, franzindo a testa. Ele não parecia surpreso nem assustado, ao contrário dela.
"E-Edwin, v-você..." O coração de Elaine não parava de bater descontroladamente, agora que ela finalmente percebia o que estava acontecendo.
"Elaine Harper!" A voz profunda de Edwin ressoou no quarto, fazendo-a estremecer.
Antes que ela pudesse pensar em fugir, ele agarrou a cintura dela com seus fortes braços. A cintura que ainda doía.
"Como ousa usar um truque tão sórdido contra mim?" Seu aperto apertou e ele a encarou fixamente. "Você pensou que me drogando e me armando com outra mulher iria dar a mídia um motivo para causar discórdia entre nossas famílias? Você quer um divórcio, certo? "
Elaine estremeceu quando ele ergueu a mão para afastar o cabelo dela.
"Nos seus sonhos."
Suas últimas palavras ecoaram em seus ouvidos e ela finalmente foi libertada de sua forte pegada.
Edwin saiu da cama e entrou no banheiro, batendo a porta atrás dele.
Elaine apoiou a cabeça com as duas mãos e fechou os olhos. Cada uma das palavras de Edwin era verdade.
Na noite anterior, na festa de aniversário do avô dele, ela e sua melhor amiga Monica secretamente fizeram um plano e pagaram um garçom para esconder algo em sua bebida. Eles também haviam providenciado para que alguém realizasse o plano dormindo com Edwin. O repórter que eles também contrataram para registrar tudo e espalhar o escândalo estava pronto.
No entanto, o plano deles saiu pela culatra quando, do nada, Edwin a levou para o estacionamento e ordenou ao motorista para os levar de volta para casa. Ele começou a despi-la no corredor e ela acabou sendo vítima da droga.
Elaine conseguia se lembrar que, após esse incidente, ela cresceu mais ressentida em relação a Edwin. O casamento deles sempre esteve por um fio desde o início.
Imediatamente após se formar na faculdade, seu avô a forçou a casar-se com ele para fortalecer os laços de negócio entre as duas famílias.
Embora Edwin nunca a tivesse tratado mal e lhe desse tudo que uma mulher pudesse pedir, seus acessos de raiva aumentavam cada dia mais, alimentados por seu desejo de deixá-lo e também pelos constantes conselhos de sua melhor amiga de que estar com Edwin não era nada comparado à felicidade que ela viveria ao finalmente estar com Carlos, seu amor de infância.
Apesar de agir friamente o tempo todo, Edwin estava decidido a não se divorciar dela, e os acessos de raiva de Elaine se tornaram tão graves que seu avô teve um ataque cardíaco que levou à sua morte.
Quando Elaine descobriu que estava grávida, ela não pensou duas vezes antes de interromper a gravidez. A droga que ela tomou era tão letal que ela quase perdeu a vida, mas Edwin não desistiu dela. Ele chamou os melhores médicos para salvá-la, gastando uma fortuna.
Mas esse incidente teve um enorme impacto em Elaine quando as pessoas descobriram o que ela havia feito. Sua família a deserdou e os pais de Edwin a expulsaram. Foi quando ela descobriu que sua melhor amiga, que vinha apoiando ela todo esse tempo, era na verdade uma falsa.
Acontece que Mônica e Carlos estavam em um relacionamento, e o objetivo deles sempre foi destruir o casamento dela.
Foi tarde demais quando Elaine percebeu que Edwin a amava desde o começo. Porque não muito tempo após o divórcio, ele ligou e queria se encontrar com ela nos arredores da cidade.
Ela esperou por ele na montanha, mas o carro dele pareceu perder o controle e ela assistiu horrorizada enquanto ele caía do penhasco e explodiu.
Como ela estava presente no local, a polícia a prendeu e a família dele a acusou de estar envolvida.
Sem ninguém para defendê-la, Elaine passou muito tempo na prisão. E um dia, milagrosamente, uma pessoa misteriosa pagou a sua fiança.
No entanto, ao sair dos portões da prisão, Elaine foi sequestrada por homens estranhos. Ela nem mesmo sabia quem eram seus assassinos, porque foi amordaçada, amarrada e jogada no meio do oceano.
Elaine enxugou as lágrimas enquanto essas memórias se repetiam em sua mente. Seu coração doía ao se lembrar de quão tola e cruel ela havia sido no passado.
Se ela tivesse visto pelo lado bom, casar-se com Edwin foi nada mais que uma bênção. Mas ela deixou que Mônica e Carlos a enganasse e tomou tudo que tinha como garantido.
O impacto que ela sofreu foi tão horrível que era melhor esquecer.
Agora que ela havia acordado muito antes do ocorrido, seria isso um sinal de que era abençoada pelos céus e lhe foi dada uma segunda chance?
Ela teria o poder de evitar que as mesmas coisas voltassem a acontecer?
O barulho da porta do banheiro abrindo fez com que ela olhasse para cima e Edwin saiu enrolado numa toalha.
Elaine piscou e o coração dela foi parar no estômago.
